terça-feira, 27 de julho de 2010

Mais uma crônica daquelas...*

Sonhos não envelhecem

Semanas para pegar na mão. Pouco mais do que ombros e pulsos para serem vistos. Beijos e abraços mais íntimos, apenas depois do noivado e mediante severa vigilância. Sim, a rotina dos namorados não era nada fácil no tempo dos meus avós. Como resultado, homens e mulheres contraindo matrimônio um tanto às cegas, mesmo depois de anos de compromisso formal. À época, os pais, especialmente as mães, argumentavam que os jovens teriam a vida inteira para conhecerem um ao outro, até que a morte os separasse. Apesar de todas as dificuldades, moças e rapazes sonhavam em algum dia dividir o altar.

Beijos roubados nos cantos escuros do salão, ardentes e prolongados. Saias mais curtas e mãos nervosas negociando permissões. Muitas cartas e bilhetes de amor antes mesmo de juntar coragem para o rapaz pedir a mão da menina em namoro. Depois, sofá nas quartas-feiras, conversa no portão, cinema e festas com testemunho de chás de pera - uma tia, irmã ou acompanhante da confiança da família. No tempo dos meus pais, namorar era mais intenso, ardente. Mesmo assim, muitos sonhos permaneciam latentes até que a troca de alianças fosse concretizada.

Minha geração, se bem me lembro, namorava em plena luz do dia. Beijar na boca não constrangia mais ninguém - no máximo, uma avozinha. Sexo era uma questão de quando e como, pois os porquês estavam vencidos pela revolução feminista. Assim, o caminho era formar uma turma e promover passeios. Saíamos em dois ou três casais para acampar nas praias de Santa Catarina e, longe dos olhos dos velhos, experimentávamos uma liberdade matrimonial. O último reduto de respeito era a casa paterna: era preciso manter as aparências. Sonhávamos com a liberdade de, já casados, não precisar mais dar explicações, montando o próprio apartamento.

Quando olhei para baixo em termos de faixa etária, fiquei surpreso: meninas e meninos não conseguiam mais contar nos dedos quantos haviam beijado em uma única festa. A mesma turma, um pouco mais velha, rumou para cama um do outro sem muito critério. Contra a Aids, camisinha. Então, namorar passou a ser a existência de parceiros fixos. Depois do sofá, rapazes ficavam para dormir na casa da namorada e, muitas vezes, no mesmo quarto. Com porta fechada e bênçãos dos pais - ao menos daqueles libertos de hipocresia -, a antiga vida eterna ganhava uma espécie de pré-estreia oficial. O casamento deixou de ser o único caminho. Estranhamente, moças e rapazes continuaram sonhando com vestido branco, capela lotada, madrinhas derramando-se em lágrimas.

Hoje, confesso, não consigo mais acompanhar a velocidade dos relacionamentos juvenis. É tanta liberdade, tanta luz, tamanha superficialidade que meninos e meninas correm o risco de estarem namorando de forma mais cega do que meus avós. Há uma falsa entrega, com o tudo e o nada irmanados da solidão - beijar todos é o mesmo que beijar ninguém, sexo é sempre amor jamais. Porém, sou um otimista. Algo lá no fundo me diz que ainda existe a paixão, o frio na espinha, o medo de não ser aceito, a vontade de não sair de perto. Em algum momento, renasce aquele desejo de estar em profunda, calma e silenciosa companhia. Dentro das embalagens descartáveis, ainda nos chamamos homens, ainda nos chamamos sonhos. E sonhos não envelhecem.

*por Rubem Penz

RESUMINDO: Considerei-as sábias palavras... ISSO QUE EU NÃO SOU DA GERAÇÃO DESSE CARA! :// pare o mundo que eu quero desceeerr!!!